Sexta-feira, 12 de Novembro de 2004
Múltipla sedução
Quando a lua, brilhante, vem estender
o seu riso de prata sobre o mar,
seduzido, ele deixa-se envolver
e fica embevecido a cintilar.</p>
Atónitos, os peixes vêm ver
o que deixou o mar iluminado
e, vendo, cada um deles quer ser,
de todos, o mais belo e prateado.
E, assim, sem que a lua se dê conta,
todos lhe tiram luz, pra se enfeitar,
e quando, de manhã, o sol desponta,
vemos, nas ondas, pedaços de luar.
(imagem: Ocean moonlight Krienke - www.art.com)
Quinta-feira, 11 de Novembro de 2004
Subtileza...
Tocas-me, subtilmente, e sorris
com a certeza
de que esses toques subtis
derrubam qualquer firmeza
que, subtilmente, eu encene,
com o meu ar mais solene,
até que um toque subtil
me aniquile.
(imagem: Lovers - Talli Rosner-Kozuch - www.allposters.com)
Quarta-feira, 10 de Novembro de 2004
Devagar
Passavas devagar,
como se fosses, sem coragem,
fazer, a contragosto, uma viagem,
à falta de razão por que parar.
A tua sombra recortou-se no meu chão,
alongou-se em forma e tempo,
ganhou corpo, ganhou voz.
E, desde então,
aguardamos o momento
em que o sol, a pino, sobre nós,
reduza as nossas sombras a um ponto,
por ser tão certo e estreito o nosso encontro,
que nem em sombra voltaremos a estar sós.
(imagem: Embrace - Mary Ann Mercer - www.allposters.com)
Terça-feira, 9 de Novembro de 2004
Vinda do fundo de mim
Os teus dedos,
navegam no meu mar de espanto
e descobrem-me segredos
que nem sonhava ter.
Fico, então, cativa do encanto
de me sentir e ver
à luz da estrela de cinco pontas
em que se transforma a tua mão,
quando iluminas e encontras
cada relevo, cada desvão,
onde, sem saber, eu estava
esquecida,
adormecida,
como a lava
de um vulcão.
(imagem: Desire - Paul Curtis - www.allposters.com)
Qu'ódio!!!
A tua sorte, Sapo, além de seres escorregadio, é não teres pescoço.
Caso contrário, já te teria estrangulado.
E não me olhes com esse ar de quem não me entende... arghhh...
(imagem: "Frog" - Tim Flach - www.allposters.com)
Segunda-feira, 8 de Novembro de 2004
Acção e reacção
Quando o teu desejo,
como vento,
por mim passa,
desencadeia o melhor dos vendavais.
Basta um beijo,
como alento,
e logo se desenlaça
a vontade de mais... e mais... e mais...
(imagem: Le baiser - escultura de Auguste Rodin - www.musee-rodin.fr)
Quinta-feira, 4 de Novembro de 2004
Eternos amantes

Quando o Tejo se recolhe
numa maré retraída,
Lisboa vem junto ao molhe,
como mulher preterida,
que se sente abandonada,
sem as carícias e os beijos
que o Tejo, alta madrugada,
em noites de mil desejos,
deposita, sem cansaço,
na muralha, junto ao cais,
prolongando o terno abraço
dos noctívagos casais,
que olham as suas águas
- espelho de tantos amores,
torrente de tantas mágoas,
estuário de tantas dores.
E é das águas do seu rio
que vem parte do encanto
que, do Sodré ao Rossio,
se sente em qualquer recanto.
E até na ameia mais alta
do alto castelo se sente
que, quando o Tejo lhe falta,
Lisboa fica diferente.
Perde o brilho, a maresia,
caem sombras onde, antes,
tudo era luz, por magia
de dois eternos amantes.
Assim foi e assim é,
sempre que baixa a maré.
(imagem: Lisboa e o Tejo - Domingo - Carlos Botelho - www.ci.uc.pt/artes)
Quarta-feira, 3 de Novembro de 2004
Maldito medo!
Assumes, novamente, o teu poder
de várias faces e em múltiplas igrejas.
Por cada vítima que queiras converter
ao interesse dos teus deuses, maldito sejas!
(imagem: O Inquisidor - Diogo de Macedo - www.ci.uc.pt/artes)
Terça-feira, 2 de Novembro de 2004
Ver e sonhar
Reuniram-se as pedras à beira-rio?...
Ou convidou-as a margem, para defesa?...
Ou arrumou-as o rio, como represa,
feito criança que inventa um desafio?...</p>
Olhando muito ao pé, vejo canais
vertiginosos, formando remoinhos,
em que as folhas caídas são barquinhos
que perderam as velas e o arrais.
Olhando de mais longe, é quase igual
à ideia que guardo, desde sempre,
do rio-espelho que, invariavelmente,
enfeitava os presépios de natal.
(imagem: Silver brook poster - www.art.com/)
Segunda-feira, 1 de Novembro de 2004
Na despedida...
Em cada despedida que não queremos,
é tudo tão intenso e magoado.
É o início de um tempo indesejado,
imposto por um relógio cego e surdo.
É a noção de perda, é o sabermos
que pode ser o último momento,
por muito que este pensamento
pareça descabido e absurdo.
Cada despedida deixa o presente
suspenso, p'ra quem fica e pra quem parte,
da sorte, dos afectos e da arte
de retomar a vida mais à frente...
(imagem:How many times can we say goodbye?- Leech - www.allposters.com/)