Das aves...
Das aves, eu queria ter a leveza.
Não por rigores de beleza.
Por ânsia de liberdade
e pela facilidade
de poder alçar-me ao ar
e, de lá, poder olhar
o mundo de outra maneira.
Talvez que esta cegueira
de ver tão-só rés ao chão,
perante a imensidão,
se quebrasse, se alargasse
e eu nunca mais precisasse
de a mim própria confirmar
que, para se analisar
aquilo que nos rodeia,
é sempre uma boa ideia
ganhar alguma distância
e, assim, fugir à instância
do momento, da surpresa,
da dúvida ou da certeza,
que, sós ou em confluência,
exercem sua influência.
Lá do alto tudo é paisagem,
não há detalhe de imagem,
não há árvore há floresta.
E, vendo assim, só nos resta
tomar a visão geral
como factor principal,
sem detalhes,
sem tibieza.
É por isso que, das aves,
eu queria ter a leveza.</p>
(imagem: Cranes over Moon - Keiichi Nishimura - http://www.art.com/)