Iam os homens pra o mar,
sem se poderem negar
aos sonhos dos grãs senhores,
que cobiçavam esplendores
do outro lado do mundo,
para lá do mar sem fundo
e sem dó dos seus cativos,
nem das viúvas de vivos,
nem dos orfãos do destino,
a quem um mar assassino,
uma briga ou o escorbuto
vaticinavam o luto
como começo de vida,
por vezes tão mal parida,
tão carente, tão sem sorte,
que mais lhes valera a morte
que nascerem condenados
a filhos de degredados
sem pena, por sem delito,
além do que foi inscrito
por terem nascido pobres,
gado, pertença dos nobres,
muitos dos quais, em nobreza
perdiam para a riqueza
sacada aos que os enfrentavam,
mas que se autoproclamavam
de boa alma e linhagem,
mas se não fosse a coragem
dos pobres que, sem vintém,
sem conhecer pai ou mãe,
tinham que enfrentar a vida,
hoje a História era contida
em metade e, mesmo assim,
entre o princípio e o fim,
muitos nomes mudariam,
alguns nobres sumiriam,
alguns pobres, finalmente,
já com estatuto de gente,
subiriam à glória
de ter o nome na História.
(imagem: Frigate in a storm - Willem Van de Velde -
http://www.allposters.com/)
De DespenteadaMental a 30 de Outubro de 2004 às 01:18
Olá, Ricardo! Agradeço as palavras, mas... não me arranje uma briga com o Camões (rindo). Ele, com uma estrofe ou nem tanto, arrasar-me-ia por completo. E o pior é que eu estaria do lado dele... Beijo.
De Ricardo Monteiro a 29 de Outubro de 2004 às 22:34
Belísima página da literatura. Camões não a faria tão bem, narrando o que tenta sintetizar. O sofrimento daqueles que se aventuraram, ou "foram aventurados" em viagens ao desconhecido.
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