Todos os dias, de todos os meses, de todos os anos,
em cada segundo, cada minuto, cada hora,
a rotina impõe-se, sem desvios, sem novidades, sem enganos.
O cansaço, o tédio ou a revolta,
se afloram, esvaem-se em leve açoite da memória,
que logo se amordaça e volta
ao que é, todos os dias, de todos os meses, de todos os anos.
O hábito, esse espartilho, esse embaraço,
feito de gestos já impressos na vontade,
é como grade feita de indiferença e aço,
e, à beira dela, o desejo nasce e morre, mas não arde.
(imagem: Álbum da natureza)
(poema: escrito após leitura de "Sexta-feira à noite" em Rosebud)